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Identity. Parte II

Imagens e texto aqui:

Continuando o processo, dirigi 3 atores (Christiaam Mariman, Marie Pien e Stefan Gota) em minha pesquisa sobre "Identidade". Como ponto de partida propus no primeiro dia de trabalho uma improvisação onde todos estivessem dentro de um saco de pano de cor laranja.

Selecionei a sala do controle de luz enquanto espaço de jogo cênico, pois desejava que toda a ação fosse vista pela plateia através dos vidros das janelas, num voyeurismo de aproveitar a poluição visual do lugar (repleto de restos, objetos, coisas inutilizadas como papéis, latas, sapatos, luvas, caixas, jornais, etc).

Por alguns dias estive com os atores ali, experimentando no espaço uma movimentação expressiva no interior do saco laranja que foi se transformando numa grande bola-ovo-ser-estranho de locomoção cômica e grotesca. Deixei que tivessem total liberdade de experimentar ações diversas daquele elemento no espaço, e fui registrando os momentos em que enxergava jogos e tensões possíveis de serem aprofundadas dentro das perguntas sobre Identidade que me moviam: fragmentação, sobreposição, multiplicação, trânsito, tensionamento, coexistência, etc.

Vimos que seria melhor ao invés de 3 atores no interior do saco, termos apenas 2, pois assim teríamos maiores possibilidades de desenhos, movimentações e criação de jogos com a coisa.

Me interessava encontrar os conflitos que aquele saco podia estabelecer com o espaço e seus objetos. Esse era o meu desejo enquanto direção: explorar jogos/conflitos produzidos pela relação entre o Ser-Saco, Espaço e os Objetos. O Saco é uma referência direta ao "Inominável" que vem me acompanhando desde o início de minhas pesquisas. O Saco é o tudo e o nada. Contém as partes do todo e o vazio ao redor.

À medida que a improvisação foi avançando, Marie e Stefan, descobriram conflitos entre as partes de corpo que saíam para fora do saco, como a disputa entre a perna e a cabeça que se revelam ao público enquanto membros independentes e dependentes um do outro. Descobriram também a surpresa, o medo e a fome do Saco em contato com os objetos espalhados pela sala.

Foi então que propus a separação, o parto do Homem que estava dentro do saco. E dessa proposição veio uma série de experiências com esse "Homem Primeiro" que nascia de uma espécie de Ovo, e (re) conhecia as coisas do mundo pelos 5 sentidos ( tato, olfato, paladar, gustação e audição), até se defrontar com o próprio reflexo diante do espelho, ou a percepção de ser outro.

Antes da chegada diante do espelho, Stefan e eu investigamos nuances onde esse Homem não se restringisse a um Primata, mas que pudesse ter a humanidade e animalidade de um Ser bicho/Ser gente, uma mescla de naturezas e um lugar de passagens.

Do Homem espelhado surge o Homem nº 2 (Christiam) através do vidro, do lado de fora da sala, repetindo todas as ações do Homem Primeiro, num jogo de sombras. O Homem nº 2 entra no espaço e se inicia uma alternância de jogos, onde em alguns momentos são a mesma pessoa e em outros, pessoas diferentes. Esse brinquedo evolui para uma disputa territorial entre eles e culmina na expulsão do Homem Primeiro pelo Homem nº 2 do espaço.

O Homem nº 2 se torna protagonista da ação agora, dono do espaço e na sua solidão é surpreendido pelo Saco Laranja. Numa luta entre os dois ele tem sua cabeça engolida pelo Saco, que antes desse gesto final lhe toca a face, toca-lhe a identidade, devorando-a ou fundindo-se à ela.

Há uma cena-prólogo, que antecede a entrada do Saco no espaço, onde aparece um Outro Homem no canto da sala com o rosto coberto por um pano e uma vela na mão. Sua ação consiste em bater nas paredes com as mãos como que à procura de um caminho na escuridão e, de repente, sente que bate em alguma superfície diferente, que era a de uma máquina. Ele imediatamente abre a mesma e dela sai um grande feixe de luz acompanhado de um som de baleia. Ele leva um grande susto, fecha-a e depois de alguns segundos, torna a abrir a porta da máquina, e então tem o corpo sugado, como que abduzido/devorado - mesmo contra sua vontade- pela máquina de luz e voz animalesca.

Acompanhe aqui o storyboard e o vídeo desta experiência:

Por Wellington Dias

In Rits School of Arts-Erasmus Hogeschool Brussels Theater VI. Orientação de Pesquisa: Geert Opsomer e Johan Dehollander

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