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Vivência em Performance



Chegamos com nossa oficina-vivência-compartilhamento, em Fortaleza e em Sobral,no Ceará.

Durante algumas semanas, com 3 grupos distintos de pessoas, podemos aprofundar mais algumas temáticas que nos interessam nessa prática da performance,como vida, como acontecimento de si!


Experiência, Acontecimento, Corpo, Vida e Magia. Palavras-pilares dessa vivência que experiencia a vida em sua natureza performática, buscando explorar e compreender o corpo como território de enfrentamento social, explorando as possibilidades de transmutação e micro-impactos íntimos, que servem de estímulo para o florescer do estado de criação.

Isso não é arte, gritaram alguns. Isso parece terapia. De fato o estado desperto da criação, da criatividade, da infância adormecida e de mitologias pessoais que servem tanto para produção estética, como epistemológica, pode,sim, ter uma função terapêutica. E daí?

E porque não aceitar que as fronteiras entre vida e arte são, também, uma condição criada e mercadológica e que, portanto, não é inerente a uma ou à outra esta separação? Por que temos medo de quebrar esta fronteira? A quem interessa não quebrá-la? Por que repreender as formas instintivas de ação poética, simbólica e catarse, classificando-as como terapia, sob título de menosprezar a produção estética de alguém e quase acusá-lo de algum crime. Quem pode deslegitimar a Arte no seu papel, sua função e seu sentido terapêutico, orgasmático, entorpecente e não ficcional e nem por isso, menos estético?

Na verdade não estou interessada em qualificar ou definir algo, porque definir significa, tambem, delimitar e no caso o que esta experiência propõe é o contrário de delimitar. É um abranger coisas, memórias, movimentos, ações, formas, ruas, corpos e sentidos, é não caber.É transbordar, porque quando falamos de corpo como acontecimento,a busca é sempre pelo nunca explorado, nunca feito, pelo que não reprime.

Minha vivência,ainda muito recente, com o conceito de PSICOMAGIA (e esse conceito está presente de alguma forma no meu trabalho),do multiartista Alejandro Jodorowski, na Argentina em 2013, me fez lembrar que em 2012,juntamente, com outras artistas, convivi com mulheres da comunidade de Manguinhos, Rio de Janeiro e juntas criamos uma exposição onde figuravam obras inspiradas em histórias, cotidianos e paisagens emocionais dessas mulheres que tinham um ponto em comum entre si, entre mim e minhas colegas de trabalho: a violência de gênero, no caso aqui a violência contra a mulher. Violência social, psicológica, doméstica.

Para Jodorowski, o inconsciente se comunica e se reconfigura a partir de imagens que capta e sendo assim, seria capaz de curar traumas, experimentando ações simbólicas, que estivessem ligados,diretamente, ao fato causador do trauma.

Durante o trabalho em Manguinhos,acompanhamos a dona Maria José, participante do projeto, costureira do bairro, que 10 meses antes havia perdido seu filho assassinado pela PMRJ, em circunstâncias não esclarecidas. Ítala Ísis (Movimento Cidades Invisíveis), uma das artistas residentes, lhe propôs uma atividade que consistia na leitura do tarô para dona Maria e em troca, ítala criaria uma obra,inspirada em alguma história dela. Eis a surpresa, dona Maria pediu para ela propria criar e executar uma performance

A ação consistia em um percurso,dentro da comunidade, onde em um vestido costurado por ela, ficavam 10 pedras. Cada pedra representaria um homem,que dona Maria viu nascer, crescer e morrer pela violência, inclusive o filho, o qual foi representado pela maior pedra, colocada em um bolso no ventre. Durante o percurso, ela jogava as pedras em lugares,previamente, escolhidos, por se tratar de locais onde a mesma havia visto atos violentos.

Ao chegar no final o percurso,ela retirou os véus que cobriam seu rosto, onde se lia o nome dos homens e soltou uma frase, arrancada do fundo de sua espontaneidade: "Agora estou livre, livre para voar" e disse isso abrindo os braços como para voar.

A partir daí, comecei a perceber a conexão entre o que Jodorowski conceitua como Picomagia e a Performance, como linguagem artística, tendo como objeto a ação de dona Maria José.

O que fazer com esta fronteira tão tênue entre a vida e uma obra de performance?

Agir e se deixar ser atravessada, pela mutação que ocorre quando experimentamos esse tipo de acontecimento, de presente aqui ,agora, que podemos chamar de vida, se quisermos.

É desses atravessamentos que falamos, quando entramos em contato com a vontade íntima e pessoal de compartilhar,esteticamente, poeticamente, denúncias e curas sociais. Sim, também, é de cura que estamos falando.Estamos falando de Performance e de Magia. Duas palavras levadas, religiosamente, à sério, por uns e em total descrédito por outros. Ambas capazes de colocar o corpo em suas situações limites, suas transmutações de forma, significantes e sentidos. Ambas capazes de produzir conteúdo e conhecimento por meio da ação, do ato, do rito, do verbo- ser. Ambas mostrando possíveis formas de existir e de resistir, de criar novas narrativas para si próprio e para o mundo.De reinventar estruturas sociais por meio de suas éticas. A Magia, que sempre esteve presente na história do homem, que se misturou aos mitos, às ciências medicinais, astronômicas, geográficas, ciências antigas, que explicou e ainda explica o mundo e seus fenômenos para diferentes povos e a Performance, linguagem que por meio da ritualização do corpo, trava encontros, relações e possibilita catarses íntimas e coletivas, estão ligadas por osmose.

Todo ato de Performance é também um ato mágico, porque nenhum ato poético aconteceria sem a intenção de criar algo que ainda não existe e tudo o que ainda não existe e passa a existir, oriundo de uma explosão criativa e autônoma, promovendo significado e sentido para algum grupo, a isso,TAMBÉM, chamamos Magia.

Vamos Performagiar!


Maria Isabel Viana

Trabalho de Fran Raulino e Zak, no final da Oficina- Sesc fortaleza

Flyer da Oficina Sesc Fortalea

flyer da Oficina,no SESC Sobral.

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